29 de junho de 2007

Os desastres de Sofia

[Carice Lispector]

“A esperança era o meu pecado maior”

“As palavras me antecedem e ultrapassam, elas me tentam e me modificam, e se não tomo cuidado será tarde demais: as coisas serão ditas sem eu as ter dito.”

“{...} uma palavra mais verdadeira poderia de eco em eco fazer desabar pelo despenhadeiro minhas altas geleiras.”

“A verdade é que não me sobrava tempo para estudar. As alegrias me ocupavam, ficar atenta me tomava dias e dias; havia os livros de história que eu lia roendo de paixão as unhas até o sabugo, nos meus primeiros êxtases de tristeza, refinamento que eu já descobrira; havia meninos que eu escolhera e que não me haviam escolhido, eu perdia outras horas de sofrimento porque eles eram inatingíveis, e mais outras horas de sofrimento aceitando-os com ternura, pois o homem era o meu rei da Criação; havia a esperançosa ameaça do pecado, eu me ocupava com medo em esperar; sem falar que estava permanentemente ocupada em querer e não querer ser o que eu era, não me decidia por qual de mim, toda eu é que não podia; ter nascido era cheio de erros a corrigir.”

“{...} o ócio, mais que o trabalho, me daria as grandes recompensas gratuitas, as únicas a que eu aspirava.”

“{...} eu daria tudo o que era meu por nada, mas queria que tudo me fosse dado por nada.”

“E eu não sabia como existir na frente de um homem.”

“Era cedo demais para eu ver como nasce a vida. Vida nascendo era tão mais sangrento do que morrer. Morrer é ininterrupto. Mas ver matéria lentamente tentar se erguer como um grande morto-vivo... Ver a esperança me aterrorizava, ver a vida me embrulhava o estômago.”

“{...} eu já me habituara a proteger a alegria dos outros {...}”

“{...} a prece profunda não é aquela que pede, a prece mais profunda é a que não pede mais.”

“Seria fácil demais querer o limpo; inalcançável pelo amor era o feio, amar o impuro era a nossa mais profunda nostalgia.”

“Tudo o que em mim não prestava era o meu tesouro.”