Um filme recente, As horas, apresenta Woolf de um modo que decerto teria maravilhado seus contemporâneos. Ela é a imagem exata da romancista sensível e sofredora. Onde está a mulher maliciosa e cruel que de fato era? E desbocada também, embora com um sotaque típico da classe alta. A posteridade, ao que parece, tem de suavizar e tornar respeitável, abrandar e polir, incapaz de ver que o áspero, o bruto, o discordante podem ser a fonte e o alimento da criatividade. Era inevitável que Woolf acabasse como uma distinta dama das letras, embora eu pense que nenhum de nós poderia ter imaginado que ela seria representada por uma moça jovem, bonita e elegante que nunca sorri, cuja testa sempre franzida mostra quantos pensamentos profundos e difíceis está tendo. Meu Deus! A mulher aproveitou a vida quando não estava doente; gostava de festas, de seus amigos, de piqueniques, excursões, caminhadas. Como adoramos mulheres vítimas; oh, como de fato as adoramos.
Doris Lessing, 2003 (em "A Casa de Carlyle e outros esboços", Virginia Woolf, Organização de David Bradshaw)
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