(...) a traça não pode com a alfazema.
Sua perene lembrança - me reobriga. O afeto propõe fortes e miúdas reminiscências.
(...) fino, estranho, inacabado, é sempre o destino da gente.
Como cabe tanta coisa nos meus olhos?
Coração, é indispensável; todos sentimos por quê. O dever, mesmo, vem dele. Entanto que dever e pudor compelem-no a pelejar oculto.
"Melhor é acreditar que uma harmonia secreta domina..." (Adelmar Tavares)
Ele era bom. Será que faz ainda sentido a palavra?
"Dou muita importância às pequenas coisas; mais do que às grandes." (João Neves da Fontoura, o Ministro)
"Não o conhecia bem, mas, num lampejo ocasional, ele me apareceu como a pessoa de que precisava junto de mim." (o Ministro, novamente)
Muito junto do braseiro, gente há às vezes que não se aquece direito, mas corre risco de sapecar a roupa.
Esperar é dar-se em hipoteca.
"Toda segurança é aparente, todo bem-estar terrivelmente interino." (João Neves)
"Meu interesse, sincero, pela imensa e imedida individualidade de Vargas, motivava-se também no querer achar, em sã hipótese, se era por dom congênito, ou de maneira adquirida mediante estudo e adestramento, que ele praticava o wu wei - 'não-interferência', a norma da fecunda inação e repassado não-esforço de intuição - passivo agente a servir-se das excessivas forças em torno e delas recebendo tudo pois 'por acréscimo'." (Cordisburgo, sobre Vargas)
"Enigma nenhum, apenas um fatalista de sorte..." (o Ministro, sobre Vargas)
Lembremo-nos sempre do que ainda não houve.
(...) substância amorfa e escolhedora - o tempo.
Esta horária vida não nos deixa encerrar parágrafos, quanto mais terminar capítulos.
"As coisas estão amarradinhas é em Deus" (Vovó Chiquinha e Vovó Graciana)
(...) a transparência pressupõe fundo luminoso.
"Sonhos ou realidade? Será que a gente vê mesmo, com exatidão, as pessoas e as coisas?"
(...) poesia é remédio contra sufocação.
Tudo, pela metade, é verdade. Os extremos já de si sempre se tocam, antes que tese e antítese se proponham.
Da sensibilidade e inteligência tem-se sempre de pagar ingrato preço.
Quem julga? Apreendeu já alguém, sobre o fluxo dos fenômenos e dar-se de valores instantâneos, a ortografia das tortas linhas altas?
(...) o viver vai maior e mais ligeiro que a gente.
"A vida é uma série crescente de restrições" (Neves da Fontoura)
E envelhecia bem; isto é, tomava posse do passado. O passado também é urgente. (Sagarana, sobre o Ministro)
"Ninguém muda ninguém..." - não julgava. Usava e dava a esperança. (Mais uma vez Joãozito acerca do Ministro)
Imortal é o que é do sofrido e espírito; tudo, abaixo daí, é póstumo.
As coisas que ele me disse não se afastam com o tempo.
"a ação é um enfraquecimento da contemplação"
Pois não descendemos dos mortos?
(...) arriscado e conturbante é a gente se tirar das solidões fortificadas.
As pessoas não morrem, ficam encantadas.
O mundo é mágico.
- Pérolas do discurso de posse de João Guimarães Rosa na Academia Brasileira de Letras -
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