18 de junho de 2008

Não eu, mas mim.




(...) a traça não pode com a alfazema.

Sua perene lembrança - me reobriga. O afeto propõe fortes e miúdas reminiscências.

(...) fino, estranho, inacabado, é sempre o destino da gente.

Como cabe tanta coisa nos meus olhos?

Coração, é indispensável; todos sentimos por quê. O dever, mesmo, vem dele. Entanto que dever e pudor compelem-no a pelejar oculto.

"Melhor é acreditar que uma harmonia secreta domina..." (Adelmar Tavares)

Ele era bom. Será que faz ainda sentido a palavra?

"Dou muita importância às pequenas coisas; mais do que às grandes." (João Neves da Fontoura, o Ministro)

"Não o conhecia bem, mas, num lampejo ocasional, ele me apareceu como a pessoa de que precisava junto de mim." (o Ministro, novamente)

Muito junto do braseiro, gente há às vezes que não se aquece direito, mas corre risco de sapecar a roupa.

Esperar é dar-se em hipoteca.

"
Toda segurança é aparente, todo bem-estar terrivelmente interino." (João Neves)

"
Meu interesse, sincero, pela imensa e imedida individualidade de Vargas, motivava-se também no querer achar, em sã hipótese, se era por dom congênito, ou de maneira adquirida mediante estudo e adestramento, que ele praticava o wu wei - 'não-interferência', a norma da fecunda inação e repassado não-esforço de intuição - passivo agente a servir-se das excessivas forças em torno e delas recebendo tudo pois 'por acréscimo'." (Cordisburgo, sobre Vargas)

"Enigma nenhum, apenas um fatalista de sorte..." (o Ministro, sobre Vargas)

Lembremo-nos sempre do que ainda não houve.

(...)
substância amorfa e escolhedora - o tempo.

Esta horária vida não nos deixa encerrar parágrafos, quanto mais terminar capítulos.

"As coisas estão amarradinhas é em Deus" (Vovó Chiquinha e Vovó Graciana)

(...)
a transparência pressupõe fundo luminoso.

"Sonhos ou realidade? Será que a gente vê mesmo, com exatidão, as pessoas e as coisas?"

(...)
poesia é remédio contra sufocação.

Tudo, pela metade, é verdade. Os extremos já de si sempre se tocam, antes que tese e antítese se proponham.

Da sensibilidade e inteligência tem-se sempre de pagar ingrato preço.

Quem julga? Apreendeu já alguém, sobre o fluxo dos fenômenos e dar-se de valores instantâneos, a ortografia das tortas linhas altas?

(...)
o viver vai maior e mais ligeiro que a gente.

"A vida é uma série crescente de restrições" (Neves da Fontoura)

E envelhecia bem; isto é, tomava posse do passado. O passado também é urgente. (Sagarana, sobre o Ministro)

"Ninguém muda ninguém..." - não julgava. Usava e dava a esperança. (Mais uma vez Joãozito acerca do Ministro)

Imortal é o que é do sofrido e espírito; tudo, abaixo daí, é póstumo.

As coisas que ele me disse não se afastam com o tempo.

"a ação é um enfraquecimento da contemplação"

Pois não descendemos dos mortos?

(...) arriscado e conturbante é a gente se tirar das solidões fortificadas.

As pessoas não morrem, ficam encantadas.

O mundo é mágico.


- Pérolas do discurso de posse de João Guimarães Rosa na Academia Brasileira de Letras -

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