28 de setembro de 2008

É bom evitar


Amor, quanto menos ou nenhum é melhor
Porque só se vive a sofrer por amar
E quem pensar nisso hoje em dia, não terá alegria
É bom evitar

Desses carinhos não quero saber
Pra não andar só a me maldizer
É preferível viver com a paz
Porque se não faz bem, mal não faz

Não tenho nota nem faço questão
Mas tenho enfim muita satisfação
Com alegria estou muito bem
Muita gente quer ter e não tem

Ismael Silva!
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O infinito amor tem cláusulas.


Ansiavam-se, desconhecendo o desamparo de ai-de de estar-se dentro do amor mas ainda em estados de discórdia, movidos dessa guerra: como as boas cordas, se para sonoras, bem a apertarem-se; como os fundentes metais, na arte da afinagem.

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Aqueles que Deus uniu, nem eles mesmos conseguem se separar...

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[rosa, retábulo de são nunca, 254]
imagem de Dolls (takeshi kitano)
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21 de setembro de 2008

Sobre um mar de rosas que arde


[Pedro Kilkerry]

Sobre um mar de rosas que arde
Em ondas fulvas, distante,
Erram meus olhos, diamante,
Como as naus dentro da tarde.

Asas no azul, melodias,
E as horas são velas fluidas
Da nau em que, oh! alma, descuidas
das esperanças tardias.

(imagem: alicia bock)

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15 de setembro de 2008

Natureza Viva



[Jorge Salomão]

você já sabe todos os meus segredos

agora quer minha alma mastigar

eu não sou fera

mas ainda tenho a cabeça esperta

transformo todo dia a água em vinho

bebo de bar em bar

a sede de te ter também

a se de te ter...

segredos alma corpo coração

mistérios

solto em qualquer direção

como os alimentos não param no organismo

tenho pressa

mesmo sem saber que direção tomar

sinto uma grande fome

de ter tudo na mão agora

e devorar numa rápida dentada

esta madura canção

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14 de setembro de 2008

Rosa e Ara..


Sinto e tenho a necessidade tremenda de sentir o amor como cousa NÃO HUMANA, SUPER-HUMANA, sublime, acima de tudo merecendo todos os sacrifícios, mesmo os mais inauditos. Sempre precisei disto. Isto ou nada. ‘Ou a perfeição, ou a pândega!’ Não me satisfaria um amor burguês, morno, conformado, dosado, raciocinando sobre conveniências ou inconveniências"

Os outros eu conheci por ocioso acaso. A ti vim encontrar porque era preciso.”

Serás tudo para mim: mulher, amante, amiga e companheira. Sim, querida, hás-de ajudar-me, ao escrever os nossos livros. Não só passarás à máquina o que eu escrever, como poderás auxiliar-me muito. Tu mesma não sabes o que vales. Eu sei. Sei, e sempre disse, que tens extraordinário gosto, para julgar coisas escritas. Muito bom gosto e bom senso crítico. Serás, além de inspiradora, uma colaboradora valiosa, apesar ou talvez mesmo por não teres pretensões de ‘literata pedante’. E estaremos sempre juntos, leremos juntos, passearemos juntos, nos divertiremos juntos, envelheceremos juntos, morreremos juntos.

13 de setembro de 2008

{Eu vou morrer se você não quiser me arranjar um pecadinho!}


FREVO

(TOM ZÉ - TUZÉ DE ABREU)

Esta noite não quero saber de conselho
esquece, deixe pra lá
me arranje um pecado
quente pra me consolar
pense bem que depois
tem o ano inteiro pra gente pagar

Cinqüenta gramas de amor
veja lá, é um bocadinho
vinte gramas até,
venha cá, é tão pouquinho.
Eu vou morrer se você
não quiser
me arranjar um pecadinho.

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6 de setembro de 2008

Chuva Interior



[mario chamie]

Quando saía de casa
percebeu que a chuva
soletrava
uma palavra sem nexo
na pedra da calçada.
Não percebeu
que percebia
que a chuva que chovia
não chovia
na rua por onde
andava.
Era a chuva
que trazia
de dentro de sua casa;
era a chuva
que molhava
o seu silêncio
molhado
na pedra que carregava.
Um silêncio
feito mina,
explosivo sem palavra,
quase um fio de conversa
no seu nexo de rotina
em cada esquina
que dobrava.
Fora de casa,
seco na calçada,
percebeu que percebia
no auge de sua raiva
que a chuva não mais chovia
nas águas que imaginava.

2 de setembro de 2008

Antônio Paulo, Antônio Paulo, Antônio Paulo...


Adão, Eva e Prometeu

[Mãos paralisadas pelo movimento do adeus]

A finitude é a provocação maior. Daí, a persistência em inventar deuses e religiões, em imaginar eternidades, em prolongar lamúrias.

A transcendência altera o valor do instante e acorda a possibilidade de mistérios.

Os percursos fundantes não são evidentes. O mapa não é o território e não tem como me apropriar das origens. São moradias de enigmas. Só com ilusões podemos decifrá-los. Planos de pertencimentos que vadiam fabricando deslocamentos.

O que importa é a trama. Não há mais lágrimas, se o humano não passa de uma criação discursiva (...) . Parece uma oração estranha, feita em algum filme de Antonioni.

Do cosmo e do caos, restam a ludicidade e a beleza?

Pensar a brincadeira que se recusa a ser séria revela outros tempos, para além do moderno. Os traços, os riscos, as cores, as dissonâncias garantem as travessuras e as possibilidades.

Não é simples abrir a porta e encontrar a casa vazia, quando ontem nela não cabia nem o suspiro do último visitante.

Para isso, existem as teorias: para consolidar ou enganar o nosso desejo de salvação. Para reunidos, sentirmos saudades de alguma coisa e seguirmos adiante, contando o que Ulisses não poderia contar, mas todos enamorados/enamoradas pelo tecer obstinado de Penélope.

O pior é não conhecei a história que está entranhada em cada objeto.

¹ espero não estar ferindo direitos autorais... rs
² brigada por me apresentar a antônio paulo, patrícia!
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