28 de dezembro de 2008

Blindness, finalmente!

Hoje vi Blindness. É, prefiro o título em inglês. Sempre achei "blind" uma palavra forte. Bom, 80% dos meus amigos já tinham visto em cidades onde os filmes chegam quando devem. Finalmente chegou a minha vez. O cinema estava cheio e só uns poucos bobinhos saíram antes do fim. Nunca li Saramago, mas já era apaixonada pelo Meirelles. Não por causa de Cidade de Deus e O Jardineiro Fiel (embora goste de ambos), mas por causa do vídeo em que ele beija carinhosamente o Saramago. Outros fatores causadores de paixão estão relacionados às entrevistas que assisti, ao jeito de menino radiante e entusiasmado e aos olhos verdes sempre brilhando. Mas isso não vem ao caso. O que vem ao caso é que o filme é realmente bom. Eu, pelo menos, gostei. Conseguiu me prender do início ao fim. Conseguiu me fazer sentir envolvida. Conseguiu me fazer comemorar e sorrir com um ato homicida! As cenas não são tão fortes quanto eu imaginava (o Meirelles deve ter cortado bastante mesmo), mas conseguem causar impacto do mesmo jeito. O pensamento que não me saía da cabeça era: ainda bem que a Julianne Moore é quem enxerga, não o Gael. Em terra de cegos, quem tem um olho é rei. E o quanto dói enxergar! O quanto somos realmente idiotas dando valor ao que os olhos vêem... jóias, ouro, sapatos, roupas. Nada vale nada. De repente lembrei de Ari, que é a favor daquilo que ele chama de "refeudalização do mundo". No campo, cegos poderiam produzir o próprio alimento. Mas como fazer comida brotar do asfalto de NY? Enlatados um dia acabam se não houver ninguém pra continuar produzindo. E as pessoas matam e morrem por causa da(s) fome(s). Ah, nem preciso falar que sempre me horroriza a crueldade humana, né? Do início ao fim as coisas deste filme me dão nojo. Mas é bom sentir nojo de vez em quando. Pelo menos isso me fez sair da apatia, sentir raiva...

Aaaaaaah e a trilha do Uakti? Ele escolheu a trilha certa. Daqui pra frente eu vou começar a achar que Uakti é música pra cegos. Que agonia aquela cegueira branca permeada de música, de ruído, de silêncio, de egoísmo, de dor. Deus nos livre de uma epidemia como aquela. Lembrei também das epidemias que assolaram Macondo, todas igualmente horrorosas. E mais uma vez vi o quanto os homens (me refiro aqui não à humanidade, mas ao sexo masculino) podem ser nojentos. O quanto somos bichos. Como somos pouco civilizados. Como realmente não há igualdade entre nós. O quanto a polícia é idiota em qualquer lugar do mundo. Enfim.. como tudo pode ser terrível se não enxergarmos ou tivermos alguém pra nos guiar. Por fim, o quanto a cegueira pode ser cômoda ou útil para alguns. O quanto sofrem aqueles que escolhem fazer o bem. O quanto me sinto mal com filmes eficientes assim. Nessas horas eu páro pra pensar sobre dignidade (como o casal oriental do filme) e ética. What diabos de mundo é esse, meu Deus? Como é raro alguém olhar pro outro e enxergar o outro como um eu. Como é difícil dizer apenas uma palavra que faça o outro se sentir bem. Como é raro alguém se dipor a ajudar pessoas frágeis e perdidas. Ah, enfim. Esse texto não vai ter um final bonito, é só um desabafo mesmo. O filme é bom.

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