[Gabriel García Marquez, Cem Anos de Solidão, p. 198]
Petra Cotes, sem perder por um só instante o seu magnífico domínio de fera em repouso, ouviu a música e os foguetes do casamento, a barulhada enlouquecedora da festança pública, como se tudo isso não fosse nada além de uma nova travessura de Aureliano Segundo. Aos que se compadeceram da sua sorte, tranqüilizou-os com um sorriso. “Não se preocupem”, disse’. “As rainhas sempre cumprem as minhas ordens.” A uma vizinha que lhe trouxe umas velas para que iluminasse com elas o retrato do amante perdido, disse com segurança enigmática:
— A única vela que o fará vir está sempre acesa.
Tal como ela havia previsto, Aureliano Segundo voltou à sua casa imediatamente após a lua-de-mel. Trouxe os seus companheiros de sempre, um fotógrafo ambulante, e a roupa e a capa de arminho suja de sangue que Fernanda usara no carnaval. No calor da farra que se armou essa tarde, vestiu Petra Cotes de rainha, coroou-a soberana absoluta e vitalícia de Madagascar e distribuiu cópias do retrato entre os seus amigos. Ela não só se prestou à brincadeira como também se compadeceu intimamente dele, pensando que devia estar muito assustado quando imaginou aquele extravagante recurso de reconciliação. Às sete da noite, ainda vestida de rainha, recebeu-o na cama. Tinha apenas dois meses de casado, mas ela percebeu imediatamente que as coisas não andavam bem no leito nupcial e experimentou o delicioso prazer da vingança consumada.
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