25 de agosto de 2009

Poemas em desordem


[todos encontrados na Confraria do Vento: http://www.confrariadovento.com/]



Não existem as cidades,

são nossas viagens que criam roteiros-mapas de superfície luminosa.
As cidades não existem,
só os encontros são reais,
as prolongadas conversas capazes de transformar qualquer lugar em praia deserta ao anoitecer.

(Cláudio Willer)

...


Eco de Lawrence Durell

Nada está perdido
para sempre amada

o que não se disse
restou
no coração — música
sob o silêncio
eco onipresente — pássaro
indecolável



max martins


...

6 poemas instrumentais



I


Trata-se de modular o corpo,
quase imperceptivelmente,
para o reconhecimento da alma
esquecida talvez em outro lugar.
De uma prova que exige
alguma concentração, sobretudo
das partes dormidas.


II


Trata-se agora de saber encaixar
a falta de tempo com o espaço
que resta: de introduzir o adentro
afora. Dois tempos ou dois
espaços, como quando as coisas
e seu perfume coincidem.


III


Trata-se também de manter
uma distância conveniente,
talvez vários centímetros para
não chegar onde não se pode.
Um gesto leve apenas, como
uma respiração, pode mudar
a paisagem, como quando a pele
regressa a uma fonte mais antiga,
que já não pertence a ninguém.


IV


Trata-se de esquecer ainda
que se escreve, sobre papel
pautado, parte do prometido,
sem mais peso que a consciência
no território da pele, para
que as palavras chovam.
Por o preço de cada imagem,
vive-se, paga-se.


V

Trata-se de esperar assim,
das próprias estrias,
um atenuante de si mesmo,
uma fissura. Outra figura
de calma chamada a pensar
a arte da solidão. Porque faz parte
do conhecimento, ser recortado
pela câmara anônima
dos dias e das vozes.
Os ecos valem.


VI

Trata-se de uma prova mais
de resistência, ao olhar
encontrado de outro dia
que não quer saber nada
do alvo imaginado.
O verso está aberto
contra a parede, pedindo
sua mais terna pontaria.

adolfo montejo navas

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