O Tio Abstêncio, este que cruza o rio comigo, sempre assim se apresentou: magro e engomado, ocupado a trançar lembranças. Um certo dia, se exilou dentro de casa. Acreditaram ser arremesso de humores, coisa passatemporária. Mas era definitivo. Com o tempo acabaram estranhando a ausência. Visitaram-no. Sacudiram-no, ele nada.
─ Não quero sair nunca mais.
─ Tem medo de quê?
─ O mundo já não tem mais beleza.
Como aqueles amantes que, depois de zanga, nunca mais se querem ver. Assim era o amuo do nosso tio. Que ele tinha tido caso com o mundo. E agora doía-lhe demais a decadência desse rosto de quem amara. Os outros riram. O parente sofria de tardias poesias?
_______________________________________
Mia Couto, Um rio chamado tempo, uma casa chamada terra.
(tô gostando! bem que me disseram que ele tinha algo de Guimarães Rosa...)
Nenhum comentário:
Postar um comentário