por Paulo Bullar
In: http://hortifruti.org/zines/044.htm
O menino e a menina se encontraram na entrada do cinema. "Que bom que você veio", disse ela, seus olhos grandes e esquisitos. Lindos. Ele sorriu amarelo, puxou uma faca e enfiou no braço da menina. A faca lá ficou, o sangue brotando. A menina, surpresa, seus olhos mais lindos do que nunca, retirou a faca devagar, com dificuldade, e a devolveu pro menino, que pegou a arma e voltou a esfaqueá-la, dessa vez na barriga, na região do baço. A menina suspirou, melancólica, quase entediada, e puxou a faca novamente, uma leve expressão de dor em seu rosto. O gesto levou alguns segundos, pois a lâmina rasgava ainda mais sua carne quando era puxada, e ela, é claro, praticava a operação com cautela. A menina lhe devolveu a faca, sua blusa branca manchada de sangue. O menino, a mão trêmula, esfaqueou novamente a menina, dessa vez no fígado. Ela olhou para baixo, na direção da ferida, e viu o sangue escorrendo lentamente. "Assim não chegaremos a lugar nenhum", disse, esmorecida.
imagem de Yolk's Yogurt