Sivuca - Chico Buarque/1977
J'étais le chevalier
et mon cheval était ambassadeur
Je partais délivrer
Ma fiancée des griffes des chasseurs
Je combattais des bataillons
D'extra-terrestres et de dragons
Et mon épée barbare se changeait en guitare
Alors j'étais chanteur
J'étais le roi des rois
J'étais le juge et l'idiot de la cour
Et j'inventais des lois
Pour obliger le monde à faire l'amour
Tu étais la villageoise que j'ai fait couronner
Et tu étais si belle à regarder
Que toute nue tu dansais pour toujours
Non, ..ne t'en vas pas
Si tu veux bien j'étais ton aquarelle
J'étais ton animal
Ton tapin volant-voleur
Non, regarde-moi
C'était le temps où on avait des ailes
On était nés mille ans avant les temps du mal
et de la peur
J'étais adulte enfin
le temps des fés devait bientôt finir
Les portes du jardin
C'étaient fermées juste avant de mourir
Tu as pris la clef des champs sans me dire au revoir
Et moi j'étais le fou vêtu de noir
D'un vieux royame oublié dans la nuit
30 de julho de 2006
29 de julho de 2006
Adágio para umbigos
Daniel Pellizzari
Noite. Um bar vazio, com exceção de uma mesa com quatro escritores mortos e várias garrafas, também vazias.
SAMUEL BECKETT: Tá, mas alguém discorda que realismo é coisa de veado?
DANIIL KHARMS: Ô. Perder a fábula é perder a alma.
JULIO CORTÁZAR: Ele não tá falando exatamente de alma, Dandan.
FRANZ KAFKA: Sabem de uma coisa? A gente nunca mais vai sair desse bar.
KHARMS: Ih, começou. Tá na hora de parar de beber, Chico.
KAFKA: Tô falando sério, ô morto de fome.
CORTÁZAR: Ô Chico, qualé a tua? Pega leve.
KAFKA: Vocês nunca me escutam. Que se fodam. Nunca vamos sair nem dessa mesa, muito menos do bar.
CORTÁZAR: Cara, não é só porque não tem mais trago que tu tem que pirar.
KAFKA: Então tá. Não falo mais nada.
BECKETT: Não vamos sair nunca daqui, essa foi foda.
KHARMS: Falando nisso, alguém tem horas?
BECKETT: Não.
CORTÁZAR: Não uso relógio, tu sabe. Esqueço de dar corda.
KHARMS: Porra, não tem mais ninguém na merda do bar. Deve ser tarde.
CORTÁZAR: Pergunta pro cara que atende, pô.
KHARMS: Cadê ele?
BECKETT: Sei lá. Putz, tem boteco que é dureza.
KAFKA: Vocês nem percebem, né? A gente tá aqui há sei lá quantas décadas, falando merda sem parar, e vocês nem se dão conta. O dia nunca amanhece. Não tem ninguém no bar porque o bar não existe. Nem nós. A gente tá preso aqui.
CORTÁZAR: Vai à merda, Chico.
KAFKA: Ah, é? Então experimenta levantar da mesa pra ir no banheiro.
CORTÁZAR: Não tô com vontade.
KAFKA: Tenta. Quero ver.
CORTÁZAR: Não quero, cara!
KAFKA: Tu não ia conseguir. Não tem como sair dessa mesa.
CORTÁZAR: Ah, tá bom, tá bom. Azar o teu. Não vou fazer isso só pra tu ficar feliz.
KAFKA: Não faz porque não conseguiria. Eu já disse: não vamos sair daqui nunca.
KHARMS: Falando nisso, o que vocês acham dos ensaios que o Borges escreveu sobre a eternidade e o eterno retorno, esses papos todos?
BECKETT: Putz, o Borges é um mala. Fala, fala e não diz nada. Um belo fabricante de lingüiça oca, isso é o que ele é. Bosta n'água de meia-tigela. E também não sabe beber. Ainda bem que ninguém convidou ele pra sair hoje.
KHARMS: Mas foi sacanagem terem esquecido do Joyce, ele é gente fina e sabe umas musiquinhas do caralho.
BECKETT: Pô, eu até liguei, mas ele já tinha saído com o Hemingway pra beber na casa do Dylan Thomas.
CORTÁZAR: Com o Urso? Lá no Nenezão? Caralho, isso vai dar merda. Era uma boa a gente passar por lá daqui a pouco, hein?
KAFKA: Tô começando a ficar nervoso. Quem sou eu? Onde a gente tá? Quem são vocês? Quem colocou a gente aqui? Por que não conseguimos ir embora? A gente já não morreu há um tempão? Que saco isso, caras. Prestem atenção.
BECKETT: Cala a boca, Kafka. Putalamerda.
CORTÁZAR: É, Chico, fica quieto.
KAFKA: Nunca mais vamos sair daqui. Não tem como.
CORTÁZAR: Tá, Chico, tá.
BECKETT: Tu é muito impressionável, cara. Cadê teu orgulho judaico?
KHARMS: Pára de chorar, Chico. Deixa de ser ridículo.
CORTÁZAR: Opa, agora bateu uma vontade de dar um mijão.
BECKETT: Então vai no banheiro, ora.
CORTÁZAR: Daqui a pouco. Agora deve ter uma baita fila.
KAFKA: Não tem ninguém nesse bar de bosta, cara. Eu já disse. Tu não vai conseguir levantar.
KHARMS: É, a fila deve estar foda, mesmo. Vai depois.
CORTÁZAR: É, eu me agüento aqui.
BECKETT: Cacete, Kafka, pára de chorar!
Cortina.
Por Daniel Pellizzari
http://www.wunderblogs.com/failbetter/archives/2004_02.html
Noite. Um bar vazio, com exceção de uma mesa com quatro escritores mortos e várias garrafas, também vazias.
SAMUEL BECKETT: Tá, mas alguém discorda que realismo é coisa de veado?
DANIIL KHARMS: Ô. Perder a fábula é perder a alma.
JULIO CORTÁZAR: Ele não tá falando exatamente de alma, Dandan.
FRANZ KAFKA: Sabem de uma coisa? A gente nunca mais vai sair desse bar.
KHARMS: Ih, começou. Tá na hora de parar de beber, Chico.
KAFKA: Tô falando sério, ô morto de fome.
CORTÁZAR: Ô Chico, qualé a tua? Pega leve.
KAFKA: Vocês nunca me escutam. Que se fodam. Nunca vamos sair nem dessa mesa, muito menos do bar.
CORTÁZAR: Cara, não é só porque não tem mais trago que tu tem que pirar.
KAFKA: Então tá. Não falo mais nada.
BECKETT: Não vamos sair nunca daqui, essa foi foda.
KHARMS: Falando nisso, alguém tem horas?
BECKETT: Não.
CORTÁZAR: Não uso relógio, tu sabe. Esqueço de dar corda.
KHARMS: Porra, não tem mais ninguém na merda do bar. Deve ser tarde.
CORTÁZAR: Pergunta pro cara que atende, pô.
KHARMS: Cadê ele?
BECKETT: Sei lá. Putz, tem boteco que é dureza.
KAFKA: Vocês nem percebem, né? A gente tá aqui há sei lá quantas décadas, falando merda sem parar, e vocês nem se dão conta. O dia nunca amanhece. Não tem ninguém no bar porque o bar não existe. Nem nós. A gente tá preso aqui.
CORTÁZAR: Vai à merda, Chico.
KAFKA: Ah, é? Então experimenta levantar da mesa pra ir no banheiro.
CORTÁZAR: Não tô com vontade.
KAFKA: Tenta. Quero ver.
CORTÁZAR: Não quero, cara!
KAFKA: Tu não ia conseguir. Não tem como sair dessa mesa.
CORTÁZAR: Ah, tá bom, tá bom. Azar o teu. Não vou fazer isso só pra tu ficar feliz.
KAFKA: Não faz porque não conseguiria. Eu já disse: não vamos sair daqui nunca.
KHARMS: Falando nisso, o que vocês acham dos ensaios que o Borges escreveu sobre a eternidade e o eterno retorno, esses papos todos?
BECKETT: Putz, o Borges é um mala. Fala, fala e não diz nada. Um belo fabricante de lingüiça oca, isso é o que ele é. Bosta n'água de meia-tigela. E também não sabe beber. Ainda bem que ninguém convidou ele pra sair hoje.
KHARMS: Mas foi sacanagem terem esquecido do Joyce, ele é gente fina e sabe umas musiquinhas do caralho.
BECKETT: Pô, eu até liguei, mas ele já tinha saído com o Hemingway pra beber na casa do Dylan Thomas.
CORTÁZAR: Com o Urso? Lá no Nenezão? Caralho, isso vai dar merda. Era uma boa a gente passar por lá daqui a pouco, hein?
KAFKA: Tô começando a ficar nervoso. Quem sou eu? Onde a gente tá? Quem são vocês? Quem colocou a gente aqui? Por que não conseguimos ir embora? A gente já não morreu há um tempão? Que saco isso, caras. Prestem atenção.
BECKETT: Cala a boca, Kafka. Putalamerda.
CORTÁZAR: É, Chico, fica quieto.
KAFKA: Nunca mais vamos sair daqui. Não tem como.
CORTÁZAR: Tá, Chico, tá.
BECKETT: Tu é muito impressionável, cara. Cadê teu orgulho judaico?
KHARMS: Pára de chorar, Chico. Deixa de ser ridículo.
CORTÁZAR: Opa, agora bateu uma vontade de dar um mijão.
BECKETT: Então vai no banheiro, ora.
CORTÁZAR: Daqui a pouco. Agora deve ter uma baita fila.
KAFKA: Não tem ninguém nesse bar de bosta, cara. Eu já disse. Tu não vai conseguir levantar.
KHARMS: É, a fila deve estar foda, mesmo. Vai depois.
CORTÁZAR: É, eu me agüento aqui.
BECKETT: Cacete, Kafka, pára de chorar!
Cortina.
Por Daniel Pellizzari
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