23 de outubro de 2006

Cloé

[Italo Calvino, as cidades invisíveis]

Em Cloé, cidade grande, as pessoas que passam pela rua não se reconhecem. Quando se veêm, imaginam mil coisas a respeito uma das outras, os encontros que poderiam ocorrer entre elas, as conversas, as surpresas, as carícias, as mordidas. Mas ninguém se cumprimenta, os olhares se cruzam por um minuto e depois de desviam, procurando outros olhares, não se fixam.Passa uma moça balançando uma sombrinha apoiada no ombro, e um pouco das ancas também. Passa uma mulher vestida de preto que demonstra toda a sua idade, com os olhos inquietos debaixo do véu e os lábios tremulantes. Passa um gigante tatuado; um homem jovem com cabelos brancos; uma anã; duas gêmeas vestidas de coral. Corre alguma coisa entre eles, uma troca de olhares como se fossem linhas que ligam uma figura à outra como se fossem flechas, estrelas, triângulos, até esgotar num instante todas as combinações possíveis, e outras personagens entram em cena: um cego com um guepardo na coleira, uma cortesã com um leque de penas de avestruz, um efebo, uma mulher canhão. Assim, entre aqueles que por acaso procuram abrigo da chuva por sob o pórtico, ou aglomeram-se sob uma tenda do bazar, ou param para ouvir a banda na praça, consumam-se encontros, seduções, abraços, orgias, sem que se troque uma palavra, sem que se toque um dedo, quase sem levantar os olhos.Existe uma contínua vibração luxuriosa em Cloé. Se os homens e mulheres começassem a viver seus sonhos efêmeros, todos os fantasmas se tornariam reais e começaria uma história de perseguições, de ficções, de desentendimentos, de choques, de opressões, e o carrosel das fantasias teria fim.

2 comentários:

Anônimo disse...

Belos textos. Os autores estão de parabéns. Os autores.

E você? O que tem a dizer? Quero ver seus sentimentos, seus pensamentos, quero a sua opinião. Não dos outros.

Da próxima vez que eu vier aqui, se não tiver textos seus, não vai ter mais dinheiro no pires.

Amanda Teixeira disse...

Anônimo!

Eu nem sei quem é você!
Quando assumir sua identidade eu lhe dou o link pro blog que tem coisas minhas.

Beijinhos, espero o dinheiro num prato fundo.
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Agora fiquei intrigada!
Quem será esse anônimo? rs.