[Italo Calvino]
"Como faço agora para contar que perdi a palavras, as palavras, talvez mesmo a memória, como faço para recordar o que eu era lá fora; e, depois de me haver recordado, como faço para encontrar as palavras que possam exprimir tudo isto; e as palavras como faço para pronunciá-las, estamos todos procurando fazer com que os demais entendam alguma coisa por meio de gestos, com caretas, todos iguais a macacos." [p.76, A taverna ]
"Que cidade é essa? Será a Cidade do Tudo? A cidade em que todas as portas se conjugam, as escolhas se contrabalançam, onde se enche o vazio que existe sempre entre o que se espera da vida e aquilo que nos toca?" [p.82, História do indeciso, ]
" - Quem és?
- Sou o homem que deveria esposar a jovem que não havias escolhido, que devia seguir pelo outro caminho da encruzilhada, dessedentar-se no outro poço. Por não teres escolhido, impediste minha escolha.
- Para onde segues?
- Para outra hospedaria diferente daquela que encontrarás.
- Onde te encontrarei?
- Enforcado noutra forca que não aquela em que serás enforcado. Adeus. " [p.86, História do indeciso, ]
" Os caminhos já não levam de nenhum lugar a lugar algum." [p.92, História da floresta que se vinga, ]
"Toda linha reta oculta um desvio tortuoso, todo produto acabado um desconjuntar de pedaços que não mais se ajuntam, todo discurso contínuo um blabablá." [p.107, História do reino dos vampiros, ]
"Minha alma é um tinteiro vazio" [p.128, Também tento contar a minha, ]
"Na escrita o que fala é o reprimido." [p.129, Também tento contar a minha, ]
"O poder do ouro e da espada folga sobretudo em transformar em coisas os outros seres humanos" [p.129, Também tento contar a minha, ]
"Há quem se satisfaça em fazer girar a roda dos suplícios e quem em estar enforcado pelos pés." [p.129, Também tento contar a minha, ]
"É o destino que no sonho fala. Só nos resta realizá-lo." [p.131, Também tento contar a minha, ]
"A palavra escrita apascenta as paixões? Ou submete as forças da natureza? Ou se encontra em harmonia com a desumanidade do universo? Ou gera uma violência contida mas sempre pronta a arremessar-se, a dilacerar?" [p.133, Também tento contar a minha, ]
"A palavra escrita tem sempre a anulação da pessoa que escreveu ou daquela que lerá." [p.133, Também tento contar a minha, ]
"O casamento é o encontro de dois egoísmos que se esmagam mutuamente, a partir do qual as fendas se propagam pelas fundações do consórcio civil, os pilares do bem público se apóiam sobre as escamas das víboras da barbárie privada." [p.145, Três histórias de loucura e destruição, ]
"Com os filhos, tudo o que faz o pai está errado: autoritários ou permissivos que sejam - ninguém jamais virá agradecer aos pais - as gerações se olham de través, só se falam para não se entenderem, para se acusarem mutuamente por crescerem infelizes e morrerem desiludidos." [p.145, Três histórias deloucura e destruição, ]
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