25 de outubro de 2007

A vida nem é da gente...


{Guimarães Rosa, no Grande Sertão}

Mire veja o senhor tudo o que na vida se estorva, razão de pressentimentos. (p.150)

O senhor sabe, se desprocede: a ação escorregada e aflita, mas sem sustância narrável. (p.152)

Quem desconfia, fica sábio. (p.154)

Eu queria ir para ele, para abraço, mas minhas coragens não deram. Porque ele faltou com o passo, num rejeito, de acanhamento.

Comigo, as coisas não têm hoje e ant'ôntem amanhã: é sempre. (p.156)

Tormentos. Sei que tenho culpas em aberto. Mas quando foi que minha culpa começou? O senhor por ora mal me entende, se é que no fim me entenderá. Mas a vida não é entendível.

Qualquer coisa que ele falasse, para mim virava sete vezes. (p.160)

Deus vem, guia a gente por uma légua, depois larga. Então, tudo resta pior do que antes. Esta vida é de cabeça-para-baixo, ninguém pode medir suas pêrdas e colheitas.

A gente vive, eu acho, é mesmo para se desiludir e desmisturar. A senvergonhice reina, tão leve e leve pertencidamente, que por primeiro não se crê no sincero sem maldade. (p.162)

Mas eu gostava dele, dia mais dia, mais gostava. Diga o senhor: como um feitiço? Isso. Feito coisa-feita. Era ele estar perto de mim, e nada me faltava. Era ele fechar a cara e estar tristonho, e eu perdia meu sossego. Era ele estar por longe, e eu só nele pensava.

De ninguém eu era. Eu era de mim. (p.167)

Esta vida está cheia de ocultos caminhos. Se o senhor souber, sabe; não sabendo, não me entenderá. (p.170)

Eu não podia tão depressa fechar meu coração a ele. Sabia disso. Senti. (p.171)

Daquela mão, eu recebia certezas. Dos olhos. Os olhos que ele punha em mim, tão externos, quase tristes de grandeza. Deu alma em cara. (p.172)

A amizade dele, ele me dava. E amizade dada é amor.

"toda alegria, no mesmo momento, abre saudade" (p.173)

Passarinho cai de voar, mas bate suas asinhas no chão. (p.173)

Artes de morte e amor têm paragens demarcadas. (p.174)

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