6 de janeiro de 2008

Conversa de Bois

[Guimarães Rosa, Sagarana]

- Podemos pensar como o homem e como os bois. Mas é melhor não pensar como o homem...

- É porque temos que viver perto do homem, temos que trabalhar... Como os homens... Por que é que tivemos que aprender a pensar?
- É engraçado: podemos espiar os homens, os bois outros...
- Pior, pior... Começamos a olhar o medo... o medo grande... e a pressa... O medo é uma pressa que vem de todos os lados, uma pressa sem caminho... É ruim ser boi-de-carro. É ruim viver perto dos homens... As coisas ruins são do homem: tristeza, fome, calor - tudo, pensado, é pior...
- Mas, pensar no capinzal, na água fresca, no sono à sombra, é bom... É melhor do que comer sem pensar. Quando voltarmos, de noite, no pasto, ainda haverá boas touceiras do roxo-miúdo, que não secaram... E mesmo o catingueiro-branco está com as moitas só comidas a meia altura... É bonito poder pensar, mas só nas coisas bonitas...

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2 comentários:

Aline Chiarelli disse...

Vou pensar em coisas bonitas, Amanda. Vou sim.

Amanda Teixeira disse...

Aline, acredita que eu nem tinha percebido que esse post casa perfeitamente com o e-mail que te enviei? Acho que eu disse aquilo porque já tinha pensado na necessidade de pensar coisas bonitas quando postei aqui.

:)

Que bom!

Mais uma vez: pensemos em coisas bonitas!