16 de março de 2008

Você está cravado em minha alma como um prego enferrujado sem cabeça.

Quem não sonha às vezes em partir, fugir e queimar-se em alguma chama distante? [p.165]

Acabou. Desisto. Mas deixe-me ficar nos seus braços. Descansar meus dedos na sua nuca. Alisar o seu cabelo cinzento despenteado. Vir sorrateiramente descalça por trás de você e enterrar meus dedos em seus cabelos quando você está inclinado sobre a escrivaninha de manhã cedo, banhado pela aura elétrica do abajur, decifrando com precisão cirúrgica algum texto furiosamente místico. Serei sua esposa e serva. La commedia è finita. De agora em diante, será feita vossa vontade. Estou aguardando. [p.139]

177. A negação do Presente é um disfarce para a autonegação: o Presente é percebido como um pesadelo, como um exílio, como um "eclipse", porque o eu - foco do senso do Presente - é experimentado como uma depressão insuportável. [p.123]

Como enfeitiçada, fui atraída por você das profundidades lodosas da subserviência feminina ancestral, uma servidão anterior às palavras, a submissão de mulher de Neanderthal cujo instinto cego de sobrevivência e o medo da fome e do frio arrojaram aos pés do mais cruel dos caçadores, o selvagem hirsuto que amarrará as mãos dela nas costas e a levará, cativa, para sua caverna. [p.153]

"Você é a tristeza da minha cabeça calva
a melancolia das minhas longas unhas:
você vai me ouvir no reboco das suas paredes
no ranger noturno do seu assoalho" (Alterman) [p.162]


Amós Oz, A Caixa Preta.

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