7 de julho de 2010

Fuimos





Fui como una lluvia de cenizas y fatigas
en las horas resignadas de tu vida...
Gota de vinagre derramada,
fatalmente derramada, sobre todas tus heridas.
Fuiste por mi culpa golondrina entre la nieve
rosa marchitada por la nube que no llueve.
Fuimos la esperanza que no llega, que no alcanza
que no puede vislumbrar su tarde mansa.
Fuimos el viajero que no implora, que no reza,
que no llora, que se echó a morir.

¡Vete...!
¿No comprendes que te estás matando?
¿No comprendes que te estoy llamando?
¡Vete...!
No me beses que te estoy llorando
¡Y quisiera no llorarte más!
¿No ves?,
es mejor que mi dolor
quede tirado con tu amor
librado de mi amor final
¡Vete!,
¿No comprendes que te estoy salvando?
¿No comprendes que te estoy amando?
¡No me sigas, ni me llames, ni me beses
ni me llores, ni me quieras más!

Fuimos abrazados a la angustia de un presagio
por la noche de un camino sin salidas,
pálidos despojos de un naufragio
sacudidos por las olas del amor y de la vida.
Fuimos empujados en un viento desolado...
sombras de una sombra que tornaba del pasado.
Fuimos la esperanza que no llega, que no alcanza,
que no puede vislumbrar su tarde mansa.
Fuimos el viajero que no implora, que no reza,
que no llora, que se echó a morir.



Homero Manzi
imagem daqui

4 de julho de 2010

Do diário de Ottilie – III



 “Não importa como nos posicionemos: sempre nos imaginaremos vendo. Acho que o ser humano sonha apenas para não parar de ver. É bem possível que um dia a nossa luz interior emane, para que não necessitemos mais de nenhuma outra” 

(Goethe)
imagem aqui

1 de julho de 2010

Emmenez-moi


Je perds la notion des choses
Et soudain ma pensée
M'enlève et me dépose
Un merveilleux été
Sur la grève


Où je vois tendant les bras
L'amour qui comme un fou
Court au devant de moi
Et je me pends au cou
De mon rêve
...
Emmenez-moi au bout de la terre
Emmenez-moi au pays des merveilles
Il me semble que la misère
Serait moins pénible au soleil
...
Je fuirais laissant là mon passé
Sans aucun remords
Sans bagage et le cœur libéré
En chantant très fort

28 de junho de 2010

as palavras reduzem as coisas que pareciam ilimitáveis

As coisas mais importantes são as mais difíceis de expressar. São coisas das quais você se envergonha, pois as palavras as diminuem -- as palavras reduzem as coisas que pareciam ilimitáveis quando estavam dentro de você à mera dimensão normal quando são reveladas. Mas é mais que isso, não? As coisas mais importantes estão muito perto de onde seu segredo está enterrado, como pontos de referência para um tesouro que seus inimigos adorariam roubar. E você pode fazer revelações que lhe são muito difíceis e as pessoas o olharem de maneira esquisita, sem entender nada do que você disse nem por que eram tão importantes que você quase chorou quando estava falando. Isto é pior, eu acho. Quando o segredo fica trancado lá dentro não por falta de um narrador, mas de alguém que compreenda.

[Stephen King, O Corpo]

19 de junho de 2010

lugares desertos


They cannot scare me with their empty spaces
Between stars – on stars where no human race is
I have it in me so much nearer home
To scare myself with my own desert places.

*  * *

[Eles não podem me assustar com seus vácuos
interestelares – em estrelas onde não há raça humana.
Detenho a capacidade, tão mais perto de casa,
de me assustar com meus próprios lugares desertos.]

_________________________________

Robert Frost, tradução de Vanessa Bárbara. 
Imagem: Angela Bacon Kidwell 

8 de junho de 2010

Wuthering Heights

Não posso me exprimir direito; mas você, como todo mundo, deve ter a crença de que existe, ou deve existir outra vida, à nossa frente. Para que serviria eu ter existido, se ficasse inteiramente restrita aqui? Meus maiores sofrimentos neste mundo têm sido os sofrimentos de Heathcliff; fui testemunha deles e senti-os todos, desde o começo. Meu maior cuidado na vida é ele. Se tudo desaparecesse e ele ficasse, eu continuaria a existir. E se tudo o mais ficasse e ele fosse aniquilado, eu ficaria só num mundo estranho, incapaz de ter parte dele. Meu amor por Linton é como a folhagem da mata: o tempo há de mudá-lo como o inverno muda as árvores, isso eu sei muito bem. E o meu amor por Heathcliff é como as rochas eternas que ficam por debaixo do chão; uma fonte de felicidade quase invisível, mas necessária. Nelly, eu sou Heathcliff. Sempre, sempre o tenho em meu pensamento. Não é como um prazer – porque eu também não sou um prazer para mim própria -, mas como o meu próprio ser.


 O Morro dos Ventos Uivantes, Emily Brontë

31 de maio de 2010

Há verdade em tudo o que um homem sonha


Há verdade, ainda que não haja verossimilhança, em tudo o que um homem sonha. Uma goiabeira em flor, por exemplo, perdida algures entre as páginas de um bom romance, pode alegrar com o seu perfume fictício vários salões concretos.
A mentira - ,explicou, - está por toda a parte. A própria natureza mente. O que é a camuflagem, por exemplo, senão uma mentira? O camaleão disfarça-se de folha para iludir a pobre borboleta.Mente-lhe dizendo, fica tranqüila, minha queria, não vês que sou apenas uma folha muito verde ondulando ao vento? -  e depois atira-lhe a língua, a uma velocidade de seiscentos e vinte e cinco centímetros por segundo, e come-a.
A realidade é dolorosa e imperfeita -, dizia-me: - é essa a sua natureza e por isso a distinguimos dos sonhos. Quando algo nos parece muito belo pensamos que só pode ser um sonho e então beliscamo-nos para termos a certeza de que não estamos a sonhar – se doer é porque não estamos a sonhar. A realidade fere, mesmo quando, por instantes, nos parece um sonho. Nos livros está tudo o que existe, muitas vezes em cores mais autênticas, e sem a dor verídica de tudo o que realmente existe. Entre a vida e os livros, meu filho, escolhe os livros.
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Imaginem um rapaz correndo de moto numa estrada secundária. O vento bate-lhe no rosto. O rapaz fecha os olhos e abre os braços, como nos filmes, sentindo-se vivo e em plena comunhão com o universo. Não vê o caminhão irromper do cruzamento. Morre feliz. A felicidade é quase sempre uma irresponsabilidade. Somos felizes durante os breves instantes em que fechamos os olhos.

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José Eduardo Agualusa, O vendedor de Passados
Imagem: Parkeharrison

21 de maio de 2010

A Grande Abóbora

Everyone tells me you are a fake, but I belive you.



PS.: If you really are a fake, don't tell me. I don't want to know.

19 de maio de 2010

Palhaço da Boca Verde

Só o amor em linhas gerais infunde simpatia e sentido à história, sobre cujo fim vogam inexatidões, convindo se componham; o amor e seu milhão de significados. [JGR]

12 de maio de 2010

On the sunny side of the street

No entanto, acho que se eu vestir algo que gosto, prender o cabelo e levar os cachorros comigo, me sentirei suficientemente forte para ir até a loja e comprar suco de laranja.

[...] No dia seguinte, ela estava se sentindo melhor, comeu duas vezes e comprou um par de meias.




[Andrew Solomon apud BARBARA, Vanessa. A Hortaliça. n. 82. São Paulo: Hortifruti, abril/2010]

***

21 de abril de 2010

Pecado é não amar




 "Pecado é não amar. Pecado maior é não amar até o fim do amor"


(Fatita de Matos - Agualusa, "As Mulheres do Meu Pai")

15 de abril de 2010

Sofro as asas


"Pouco a pouco, um dia, pude. Apliquei meu coração a isso, vislumbrei entre névoas, em altura longínqua profunda, a minha estrela-da-guarda. Ah, revê-la. lembrou-me algo de maior, imensamente mor - o que podia valer-me. Como surge a esperança? Um ponto, um átimo, um momento. Face a mim, eu. Àquele ponto, agarrei-me, era um mínimo glóbulo de vida, uma promessa imensa. Agarrei-me a ele, que me permitia algum trabalho de consciência. Sofria, de contrair os músculos. Esta esperança me retorna, agora, mais vezes, em certos momentos. É quando me esforço por reunir as células enigmáticas, confiar em que possa, algum dia, conseguir-me a desassombração, levantar o meu desterro. Sofro, mas espero. Antes da experiência, profundamente anímica. Tenho de tresmudar-me. Sofro as asas".

Páramo, in Estas Estórias, João Guimarães Rosa

9 de abril de 2010





"Imortal é o que é do sofrido e espírito; tudo, abaixo daí, é póstumo"


(João Guimarães Rosa)

2 de abril de 2010

Separação

 
[Ana Akhmatova]


Nem semanas nem meses - anos
levamos nos separando. Eis, finalmente,
o gelo da liberdade verdadeira
e as cinzentas guirlandas na fachada dos templos.

Não mais traições, não mais enganos,
e não me terás mais de ficar ouvindo até o amanhecer,
enquanto flui o riacho das provas
da minha mais perfeita inocência.

18 de março de 2010

Brincadeira


(Luiz Tatit)

[...]

Graça para admirar
E a promessa de durar...

Tudo que é bom
Vai melhorar

 [...]

Mas também pode esperar
Mil razões para chorar:
Coração a implorar
A paz

[...]

26 de fevereiro de 2010

O Livro Amarelo do Terminal



Nas horas vagas, Álvaro ganha um salário mínimo demonstrando videoquês nas Casas Pernambucanas. Ele e Matilde revezam-se em “Como é grande o meu amor por você”. Nem mesmo o céu, nem as estrelas, nem mesmo o mar e o infinito. O Álvaro, sempre calmo e sorridente, aprecia as paisagens bucólicas na tela enquanto pensa: podia ser um tenor barrigudo espanhol, ah se podia. Daqueles que abrem os braços e cantam como loucos.
O sonho de Matilde é deitar em cima de um piano, vestida de vermelho, e flertar com o microfone.
[76]

Ou então: Álvaro é infeliz. Passa os dias imóvel, preso em uma jaula e envolto por correntes que atam seus pulsos à parede. Álvaro não vê o sol; não come, não dorme e costuma chorar durante meses a fio. Só narra os avisos sonoros no microfone do Tietê quando o fustigam com um espeto de churrasco.
[77]


Talvez Álvaro ganhe meias no Natal. Sua esposa é secretária e cuida dos três filhos: um loiro, o outro teimoso e um que tem terríveis dores de garganta porque ainda não tirou as amídalas. Ele acorda sempre às seis da manhã, compra bisnagas de leite, tira o Uno da garagem e vai trabalhar na sala de controle do terminal do Tietê. Álvaro não gosta do serviço, já que é obrigado a repetir as mesmas coisas com aquela voz monocórdia e formal; ele queria mesmo é poder cantar antigos boleros em frente à estação do metrô, junto a três velhinhos cegos e um cão triste.
[77]


 Vanessa Bárbara, O Livro Amarelo do Terminal

23 de fevereiro de 2010

16 de fevereiro de 2010

Quase

 

[Luiz Tatit]

Desde que cheguei aqui tive que me decidir. Vou ficando, vou vivendo ou devo partir? Fui ficando, fui vivendo, fui partir.. era muito tarde! Quase que parto (mas estava inseguro), quase que embarco num sonho maduro. Quase me curo, quase, eu juro! Quase dou um grande salto para o futuro.

Fiquei no caminho (faltou só um pouquinho).

Nunca estive tão perto de ser feliz... olha!, só não deu certo porque eu não quis: vi a sorte a um palmo do meu nariz.


(...)

Quase fiz tudo certo pra ser feliz... quase que eu fiz de tudo mas eu não fiz! 
Quase alcancei a glória... foi por um triz..

Quase!

10 de fevereiro de 2010

it may not always be so; and i say

 


it may not always be so; and i say

[e.e. cummings]

it may not always be so; and i say
it may not always be so; and i say
that if your lips, which i have loved, should touch
another's, and your dear strong fingers clutch
his heart, as mine in time not far away;
if on another's face your sweet hair lay
in such a silence as i know, or such
great writhing words as, uttering overmuch,
stand helplessly before the spirit at bay;

if this should be, i say if this should be-
you of my heart, send me a little word;
that i may go unto him,and take his hands,
saying,
Accept all happiness from me.
Then shall i turn my face, and hear one bird
sing terribly afar in the lost lands.

8 de fevereiro de 2010

Tudo pra ser feliz


Eu tinha tudo pra ser feliz
Segundo grau completo
Curso de datilografia
Uma passagem de ônibus
Pra outro lugar do país

(...)

[Totonho e os "Cabra"]

Imagem: exploding dog: http://www.explodingdog.com/