30 de novembro de 2008

A arrogância dos neófitos


[
Antonio Ozaí da Silva, em "Café História"]

Não fecho os olhos e silencio diante da arrogância titulada. A postura arrogante na docência é agravada pelo doutorismo e outros títulos acadêmicos. As relações humanas no espaço acadêmico são, também, relações de poder. O poder docente, investido e legitimado pela instituição burocrática, nem sempre é praticado responsavelmente. A atitude arrogante é a sua face perversa, cujas vítimas são, em geral, os acadêmicos (mas também os funcionários, em especial os que desempenham as funções mais simples). Essa prática caminha pari passu com o autoritarismo.

Contudo, a arrogância campeia livremente e não é exclusiva dos titulados nem do campus. O fetiche do diploma apenas a agrava, na medida em que expande o seu raio de ação e, portanto, as possibilidades de privilegiar ou prejudicar os outros. A vaidade e as atitudes arrogantes parecem inerentes ao ser humano e se manifestam em qualquer idade ou espaço. Meninos e meninas mimados são geralmente prepotentes; determinados indivíduos, educados por valores de distinção vinculados ao grupo social que pertencem, são arrogantemente preconceituosos.

Tudo isso é muito humano e... irritante! Como também é exasperador as manifestações de arrogância observáveis entre os neófitos. Leitores de um livro só, de um único autor, consideram-se suficientemente “sábios” para criticar aqueles que não comungam das idéias que “pescaram” em tais leituras e adotam como verdades absolutas. Recusam-se, consciente ou inconscientemente, a ouvir a crítica; se é solicitado que analisem o pensamento oposto ao que acreditam ser a verdade, valem-se do discurso ideológico sem a preocupação de compreender. Em alguns casos, é suficiente os slogans e alguns conceitos memorizados para se acreditarem capazes e com o direito de desqualificarem os outros. Falta-lhes a humildade intelectual necessária para aprender e dialogar criticamente. Agem religiosamente, como os que se fundamentam no “livro sagrado” e não admitem a dúvida. Estes acadêmicos, a bem da verdade, seguem os exemplos de cima. Arrogantes ensinam a arrogância, ainda que travestida de ideologia!

Mas também há o arrogante ingênuo. Diferente do “ideológico” que se espelha no ideário do “profeta maior” e acredita piamente que representa o bem contra o mal e cumpre uma “missão” pelo bem da humanidade, o ingênuo age por vaidade apenas porque se acha inteligente. É um abençoado! Nessa ilusão de si mesmo, a leitura de fragmentos da obra de um autor específico, mais o que ouviu aqui e acolá, é-lhe suficiente para considerar-se quase que um gênio capaz de sobrepor-se ao clássico. Embevecido, não vê o ridículo da situação e descarta a atitude de humildade perante o conhecimento humano, fundamento necessário para o aprendizado e o diálogo crítico.

Quanto mais leio, mais me convenço de que sei muito pouco; que o meu saber é uma gota d’água no oceano do conhecimento universal humano. Quanto mais vivo, mais me admiro com a arrogância de certos jovens acadêmicos, pirralhos que mal sabem pronunciar frases articuladas e com sentido, e outros de qualquer idade, cuja verborragia ostentatória, pedante e superficial confundem com saber. Falam como se fossem os mais inteligentes de todo o universo. Também é exasperante a arrogância militante dos neófitos que agem como discípulos dos “profetas” maiores e menores, como papagaios a repetirem slogans e verdades “sagradas” que configuram um discurso ideológico auto-suficiente e tipicamente religioso. Apesar de tudo, tento compreendê-los e ser paciente. Afinal: “Homo sum, humani nihil a me alienum puto” (Sou homem, nada do que é humano me é estranho).


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