9 de fevereiro de 2011

de favor


Fui viver de favor
Nesse seu coração
Me alojei num lugar
Que é talvez um porão
Não tem luz não tem cor
Mas tem ar do pulmão

[...]

Embora no porão
Morar num coração
Refaz

{Luiz Tatit}

24 de janeiro de 2011

Remimento


Daria aí bem em tôrno e volta a representação das arquivadas cartas postulanas, cuja rosa-dos-ventos, javalis-peixes e baleias monstruosas, homens sem cabeça, unicórnios, anjos, dragões de asas. Sejam – as sereias. Lugar igual , os remotos ou antiqüíssimos, que persistam talvez, prima terra.


(Guimarães Rosa)
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imagem: mapa de Diogo Homem, 1558
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19 de janeiro de 2011

Ain't Got No... / I've Got Life


I ain't got no home, ain't got no shoes
Ain't got no money, Ain't got no clothes
Ain't got no perfume, Ain't got no skirts
Ain't got no sweaters, Ain't got no smokes
Ain't got no god.

Ain't got no father, Ain't got no mother
Ain't got no sisters, i've got one brother
Ain't got no land, Ain't got no country
Ain't got no freedom, Ain't got no god,
Ain't got no mind,

Ain't got no earth, Ain't got no students
Ain't got no father, Ain't got no mother
Ain't got no sweets, Ain't got no ticket
Ain't got no token, Ain't got no mind
Ain't got no land.

But there is something i've got,
there is something i've got,
there is something i've got,
nobody can take it away...

Got my hair on my head
Got my brains, Got my ears
Got my eyes, Got my nose
Got my mouth, I got my smile
I got my tongue, Got my chin
Got my neck, Got my boobies
Got my heart, Got my soul
Got my back, I got my sex

I got my arms, my hands, my fingers,
my legs, my feet, my toes,
and my liver, got my blood..

I got life, I've got laughs, I've got headaches,
and toothaches and bad times too like you ...

Got my hair on my head
Got my brains, Got my ears
Got my eyes, Got my nose
Got my mouth, I got my smile
I got my tongue, Got my chin
Got my neck, Got my boobies
Got my heart, Got my soul
Got my back, I got my sex

I got my arms, my hands, my fingers,
my legs, my feet, my toes,
and my liver, got my blood..

I got life, and i'm going to keep it
as long as i want it, I got life...
{N i n a  S i m o n e}



6 de janeiro de 2011

história de amor








por Paulo Bullar

In: http://hortifruti.org/zines/044.htm

O menino e a menina se encontraram na entrada do cinema. "Que bom que você veio", disse ela, seus olhos grandes e esquisitos. Lindos. Ele sorriu amarelo, puxou uma faca e enfiou no braço da menina. A faca lá ficou, o sangue brotando. A menina, surpresa, seus olhos mais lindos do que nunca, retirou a faca devagar, com dificuldade, e a devolveu pro menino, que pegou a arma e voltou a esfaqueá-la, dessa vez na barriga, na região do baço. A menina suspirou, melancólica, quase entediada, e puxou a faca novamente, uma leve expressão de dor em seu rosto. O gesto levou alguns segundos, pois a lâmina rasgava ainda mais sua carne quando era puxada, e ela, é claro, praticava a operação com cautela. A menina lhe devolveu a faca, sua blusa branca manchada de sangue. O menino, a mão trêmula, esfaqueou novamente a menina, dessa vez no fígado. Ela olhou para baixo, na direção da ferida, e viu o sangue escorrendo lentamente. "Assim não chegaremos a lugar nenhum", disse, esmorecida.

imagem de Yolk's Yogurt

2 de janeiro de 2011

extra hungariam non est vita; si est vita, non est ita.



“Sou húngaro. A minha índole é grave,
Como os primeiros sons de nossos violinos.
O sorriso às vezes me aponta nos lábios,
Mas é raro ouvir-se o meu riso.
Quando o prazer melhor me cora as faces,
De tão disposto, desato a chorar,
Mas no tempo da mágoa meu rosto é alegre,
Pois não quero que tenhais pena de mim”
(PETÖFI)

imagem: Bence Máté

30 de dezembro de 2010

good relationships




ps.: não sei qual é a origem desta imagem.

                                                                                                          se alguém souber, por favor, me avise!

17 de dezembro de 2010

Love is a sacred word





 Love is a sacred word.

Love is the name of God.

The entire universe was created with Love,
by Love, and in Love.

Love is the beginning,
Love is the continuation,
and Love is the end...

16 de dezembro de 2010

Encantado - Nature Boy


[Eden Ahbez]

Era um rapaz
Estranho e encantador rapaz
Ouvi que andara a viajar, viajar
Toda a terra e o mar
Menino só e tímido
Mas sábio demais.

Eis que uma vez
Num dia mágico o encontrei
E ao conversarmos lhe falei
Sobre os reis, sobre as leis, e a dor
E ele ensinou
Nada é maior que dar amor
E receber de volta o amor.

ou:

There was a boy
A very strange, enchanted boy

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Eclesiastes, 12


DISCERNIR A VERDADEIRA AMIZADE   
O amigo não se revela na prosperidade, nem o inimigo se esconde no tempo da desgraça.  Quando alguém prospera, os inimigos ficam tristes, mas quando alguém cai na desgraça, até o amigo vai embora.  Jamais confie no inimigo, pois a sua maldade é metal que enferruja. Mesmo que ele se abaixe e faça muitos cumprimentos, tome cuidado e desconfie dele; comporte-se com ele como quem limpa o espelho, e você perceberá que a ferrugem dele não resiste por muito tempo. Não o coloque ao seu lado, para que ele não empurre você e ocupe o seu lugar; não o coloque sentado à sua direita, para que ele não procure ocupar a sua cadeira. Caso contrário, tarde demais você verá que eu tenho razão, e ficará arrependido por não ter ouvido os meus conselhos. Quem vai ter dó de um encantador que é mordido pela serpente e de todos os que domam feras?  É o que acontece com quem se associa a um pecador e se envolve nos pecados dele. Por um instante, ficará com você, mas quando você tropeça, ele não lhe dá apoio.  O inimigo tem lábios doces, mas no coração planeja como jogar você no buraco. O inimigo tem lágrimas nos olhos, mas na primeira ocasião lhe beberá até o sangue.  Se acontecer a você uma desgraça, ele será o primeiro a chegar e, com a desculpa de ajudar, pegará você pelo pé. Ele vai sacudir a cabeça e agitar as mãos, mas logo depois fará mexericos e voltará as costas.

28 de novembro de 2010

Harpócrates



A luz nos faz ver os corpos 
(...) o amor nos faz ver as almas

[Guimarães Rosa, num dos "Cadernos"]

14 de novembro de 2010

iluminando guimarães rosa

"O homem, dizem, é um animal racional. Não sei porque não se disse que é um animal afetivo ou sentimental. E, por acaso, o que dos demais animais o diferencie seja mais o sentimento que a razão. Mais vezes vi raciocinar um gato que rir ou chorar. Talvez chore ou ria por dentro, mas por dentro, talvez, também o caranguejo resolva equações de segundo grau."
 
(Del sentimento tragico de la vida, Unamuno)


9 de novembro de 2010

Melancolia

"MELANCOLIA": É essa fuga da vida, essa necessidade contínua de mudar de lugar, de IR-NÃO-IMPORTA-AONDE, DESDE QUE SEJA FORA DO MUNDO, que são segundo o Dr. Pierre Janet, características da SÍNDROME MELANCÓLICA.

(Guimarães Rosa, p. 196 - EO-18)


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imagem: Melancholia I, de Albrecht Dürer

12 de outubro de 2010

Uma música que Tom Zé não cantou

(mas que toca aqui dentro)



Solidão


Solidão, que poeira leve
Solidão, olha a casa é sua

Na vida, quem perde o telhado
Em troca recebe as estrelas
Pra rimar até se afogar
E de soluço em soluço esperar
O sol que sobe na cama
E acende o lençol
Só lhe chamando
Solicitando

Solidão, que poeira leve
Solidão, olha a casa é sua
O telefone chamou
Foi engano

Solidão, que poeira leve
Solidão, olha a casa é sua
E no meu descompasso o riso dela

Se ela nascesse rainha
Se o mundo pudesse aguentar
Os pobres ela pisaria
E os ricos iria humilhar
Milhares de guerras faria
Pra se deleitar
Por isso eu prefiro cantar sozinho

Solidão, que poeira leve
Solidão, olha a casa é sua
O telefone chamou, foi engano
Solidão, que poeira leve
Solidão, olha a casa é sua
E no meu descompasso passo o riso dela
Solidão 
 
[Tom Zé]


3 de outubro de 2010

A canção mais bonita dos últimos tempos: Sem Destino


Tudo que era o meu destino
Na verdade nunca me aconteceu
Pode ter acontecido
Pra alguma pessoa
Mas não era eu
Vivo assim na vida sem previsão
Todo mundo tem destino, eu não
Nunca os fatos são de fato fatais
Não confio na fortuna jamais
Puro por acaso e nada mais

Tudo que já estava escrito
No meu caso nunca se concretizou
Só talvez o aniversário
Que é na mesma data
E não se alterou
Era pra eu já ter encontrado um amor
Era pra eu já ter esquecido o anterior
Era pra eu já ter aprendido a sonhar
Era pra eu correr o mundo e voltar
Mas viagem sem destino, não dá

[...]

Ser assim tão sem destino
Me preocupa muito
Me deixa infeliz
Sempre quis o meu destino
Foi o meu destino
Que nunca me quis
Mesmo algum sucesso que ele previu
Era pra me revelar, desistiu
                                                       Acho que ele foi atrás de outro alguém
Pois destino tem destino também
E só revela aquilo que lhe convém


Imagem daqui: http://semomitirorealcotidiano.blogspot.com/2010/09/nota-rapida-futuro.html

1 de outubro de 2010

Liquidando o dragão



"A única maneira de liquidar o dragão é cortar-lhe a cabeça, aparar-lhe as unhas não serve de nada" 


[Saramago]
 



26 de setembro de 2010

Reencontro


... não sei por que, quando relanceei a vista através da janela, pareceu-me que o prédio fronteiro também envelhecera e que se tinha posto mais escuro e arruinado, que o estuque das pilastras estava todo gretado, que as cornijas se fendiam e enegreciam, e que as janelas estavam cheias de manchas e de sujeira.

Talvez a culpa de tudo isto fosse aquele raio de sol que de súbito surgiu por entre as nuvens, para logo depois voltar a esconder-se por detrás de outra ainda mais escura, que anunciava chuva, de tal maneira que todas as coisas se tornaram ainda mais lúgubres e mais sombrias...

Agora, não perdoar a tua ofensa, turvar a tua clara e pura felicidade com nuvens escuras, fazer-te censuras para que o teu coração se atormente e sofra, e palpite dolorosamente,...isso nunca farei!

Que a tua vida seja ditosa e tão diáfana e agradável como o teu doce sorriso, e bendita sejas pelo instante de felicidade que tu deste a outro coração solitário e agradecido!

Noites Brancas, Dostoievsky.
   Imagem:Mäda Privavesi, Klimt. 
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[apenas para comemorar o encontro graças ao olcadil,
e o reencontro graças a lily allen]

21 de setembro de 2010

11 de setembro de 2010

Entre l'homme et la femme

 
Entre l'homme et l'amour, il y a la femme.
Entre l'homme et la femme, il y a un monde.
Entre l'homme et le monde, il y a un mur.

Antoine Tudal (Paris en l'an 2000)

6 de setembro de 2010

O eterno Chico...

Pois é!
Fica o dito e o redito
Por não dito
E é difícil dizer
Que foi bonito
É inútil cantar
O que perdi...

Taí!
Nosso mais-que-perfeito
Está desfeito
O que me parecia
Tão direito
Caiu desse jeito
Sem perdão...

Então!
Disfarçar minha dor
Eu não consigo dizer:
Somos sempre bons amigos
É muita mentira para mim...

Enfim!
Hoje na solidão
Ainda custo
A entender como o amor
Foi tão injusto
Prá quem só lhe foi
Dedicação
Pois é!

Taí!
Nosso mais-que-perfeito
Está desfeito
O que me parecia
Tão direito
Caiu desse jeito
Sem perdão...

Então!
Disfarçar minha dor
Eu não consigo dizer:
Somos sempre bons amigos
É muita mentira para mim...

Enfim!
Hoje na solidão
Ainda custo
A entender como o amor
Foi tão injusto
Prá quem só lhe foi
Dedicação
Pois é! Então!