"o gato saiu do gato, pai, e só ficou o corpo do gato"
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[Milan Kundera]
Não existe nada mais pesado que a compaixão. Mesmo nossa própria dor não é tão pesada quanto a dor co-sentida com outro, no lugar de outro, multiplicada pela imaginação, prolongada por centenas de ecos.
{...} o peso, a necessidade e o valor são três noções intrinsecamente ligadas: só é grave aquilo que é necessário, só tem valor aquilo que pesa.
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{...} o que urrava nela era o idealismo ingênuo de seu amor, que queria abolir todas as contradições, abolir a dualidade entre corpo e alma, e talvez abolir até o tempo. [p.70]
Não somente seus corpos eram os mesmos, igualmente desvalorizados, simples mecanismos sonoros sem alma, mas as mulheres ainda se alegravam com isso! Era a solidariedade jubilosa dos sem-alma. Ficavam felizes de ter se livrado do fardo da alma, essa ilusão da unicidade, esse orgulho ridículo, e de serem todas semelhantes. [p.73]
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Morrer será voltar para lá, para a vida antes da vida? Será viver novamente aquela vida pré-natal em que repouso e movimento, dia e noite, tempo e eternidade, deixam de se opor? Morrer será deixar de ser e, definitivamente, estar? Será que a morte é a vida verdadeira? Será que nascer é morrer e morrer, nascer?
[A dialética da solidão]
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“o sopro que infla a substância, modela-a e a erige em forma, é o mesmo que a carcome e enruga e destrona”.
No mundo moderno, tudo funciona como se a morte não existisse. Ninguém conta com ela. Tudo a suprime: os discursos políticos, os anúncios dos comerciantes, a moral pública, os costumes, a alegria a baixo preço e a saúde ao alcance de todos, que nos oferecem os hospitais, as farmácias e os campos de esporte. Mas a morte, já não como trânsito, e sim como uma grande boca vazia que nada sacia, habita tudo o que empreendemos.
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