
O que é o espaço
senão o intervalo
por onde
o pensamento desliza
imaginando imagens?
O biombo ritual da invenção
oculta o espaço intermédio
o interstício
onde a percepção se refracta
Pelas imagens
entramos em diálogo
com o indizível
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era assim:
queres?
queres algo?
queres desejar?
desejas querer?
desejas-me?
desejas querer-me?
queres desejar-me?
queres querer-me?
queres que te deseje?
desejas que te queira?
queres que te queira?
quanto me
queres?
quanto me
desejas?
ah quanto te quero
quando te quero
quando me queres...
Não sei porque eu tô tão feliz! Não há motivo algum pra ter tanta felicidade... Não sei o que que foi que eu fiz. Se eu fui perdendo o senso de realidade... Um sentimento indefinido foi me tomando ao cair da tarde. Infelizmente era felicidade. Claro que é muito gostoso, claro! Claro que eu não acredito: felicidade assim, sem mais nem menos, é muito esquisito!
Não sei porque eu tô tão feliz. Preciso refletir um pouco e sair do barato. Não posso continuar assim, feliz, como se fosse um sentimento inato, sem ter o menor motivo, sem uma razão de fato! Ser feliz assim é meio chato... E as coisas nem vão muito bem: perdi o dinheiro que eu tinha guardado e, pra completar, depois disso eu fui despedido e estou desempregado! Amor, que sempre foi meu forte? Não tenho tido muita sorte. Estou sozinho, sem saída, sem dinheiro e sem comida. E feliz da vida!!!
Não sei por que eu tô tão feliz! Vai ver que é pra esconder no fundo uma infelicidade... Pensei que fosse por aí, fiz todas terapias que tem na cidade. A conclusão veio depressa e sem nenhuma novidade: o meu problema era felicidade. Não fiquei desesperado, não. Fui até bem razoável. Felicidade - quando é no começo - ainda é controlável.
Não sei o que foi que eu fiz pra merecer estar radiante de felicidade. Mais fácil ver o que não fiz: fiz muito pouca aqui pra minha idade. Não me dediquei a nada: tudo eu fiz pela metade, por que então, tanta felicidade? E dizem que eu só penso em mim, que sou muito centrado, que eu sou egoísta. Tem gente que põe meus defeitos em ordem alfabética e faz uma lista! Por isso não se justifica tanto privilégio de felicidade. Independente dos deslizes dentre todos os felizes... Sou o mais feliz!
Não sei por que eu tô tão feliz. E já nem sei se é necessário ter um bom motivo! A busca de uma razão me deu dor de cabeça, acabou comigo. Enfim, eu já tentei de tudo, enfim eu quis ser conseqüente. Mas desisti, vou ser feliz pra sempre! Peço a todos: com licença, vamos liberar o pedaço? Felicidade assim desse tamanho só com muito espaço!
* - Tom, toda pessoa muito conhecida, como você, é no fundo o grande desconhecido. Qual é a sua face oculta?
- A música. O ambiente era competitivo, e eu teria que matar meu colega e meu irmão para sobreviver. O espetáculo do mundo me soou falso. O piano no quarto escuro me oferecia uma possibilidade de harmonia infinita. Esta é a minha face oculta. A minha fuga, a minha timidez me levaram inadvertidamente, contra a minha vontade, aos holofotes do Carnegie Hall. Sempre fugi do sucesso, Clarice, como o diabo foge da cruz. Sempre quis ser aquele que não vai ao palco. O piano me oferecia, de volta da praia, um mundo insuspeitado, de ampla liberdade - as notas eram todas disponíveis e eu antevi que se abriam os caminhos, que tudo era lícito, e que poderia ir a qualquer lugar desde que fosse inteiro. Sùbitamente, sabe, aquilo que se oferece a um menor púbere, o grande sonho de amor estava lá e este sonho tão inseguro era seguro, não é Clarice ? Sabe que a flor não sabe que é flor? Eu me perdi e me ganhei, enquanto isso sonhava pela fechadura com os seios de minha empregada. Eram lindos os seios dela através do buraco da fechadura.
* - A coisa mais importante do mundo é o amor, a coisa mais importante para a pessoa como indivíduo é a integridade da alma, mesmo que no exterior ela pareça suja. Quando ela diz que sim, é sim, quando ela diz que não, é não. E durma-se com um barulho desses. Apesar de todos os santos, apesar de todos os dólares. Quanto ao que é o amor, amor é se dar, se dar, se dar. Dar-se não de acordo com o seu eu - muita gente pensa que está se dando e não está dando nada - mas de acordo com o eu do ente amado. Quem não se dá, a si próprio detesta, e a si próprio se castra. Amor sozinho é besteira.[Ricardo Breim/Luiz Tatit]
Minta que você sozinho fez tanta proeza que já tem certeza que esse mundo é seu.
Minta que no fim das contas pra ser bem sincero você nem se lembra que me conheceu.
Minta, mas com muita classe, como se não se importasse com sei lá quem quer que fosse
Mesmo quem lhe trouxe toda essa confiança que lhe cobre a face...
Minta que depois da gente bem rapidamente você virou outro e logo me esqueceu.
Minta descaradamente que daí pra frente tudo que cê teve foi melhor que eu.
Minta, mas com segurança, pra que eu me sinta criança
E me dê a doce liberdade de ouvir mentiras em palavras que são de verdade...
...
Oh, sim, eu estou tão cansado
Mas não pra dizer
Que eu tô indo embora
Talvez eu volte.
Um dia eu volto.
Mas eu quero esquecê-la, eu preciso...
Oh, minha grande
Ah, minha pequena
Oh, minha grande obsessão!
Eu não era nada e aquilo me bastava. Agora não quero mais a parte, eu quero da vida o todo.
Diz que eu não sou de respeito, diz que não dá jeito, de jeito nenhum.
Diz que eu sou subversivo, um elemento ativo, feroz e nocivo ao bem-estar comum...
Mas fica...
Mas fica, meu amor!
Quem sabe um dia,
Por descuido - ou poesia -
Você goste de ficar!
---Não Existe Pecado ao Sul do Equador
Não existe pecado do lado de baixo do equador
Vamos fazer um pecado rasgado, suado, a todo vapor
Me deixa ser teu escracho, capacho, teu cacho
Um riacho de amor
Quando é lição de esculacho, olha aí, sai de baixo
Que eu sou professor
...
Deixa a tristeza pra lá, vem comer, me jantar
Sarapatel, caruru, tucupi, tacacá
Vê se me esgota, me bota na mesa
Que a tua holandesa
Não pode esperar!
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De volta ao samba
Pensou que eu não vinha mais, pensou?
Cansou de esperar por mim?
Acenda o refletor, apure o tamborim!
Aqui é o meu lugar: eu vim!
...
Quem vibrou nas minhas mãos
Não vai me largar assim
Acenda o refletor, apure o tamborim
Preciso lhe falar: eu vim!
- O erro? Eu dizia, pois é, o erro. Eu penso, se o erro não foi de dentro, mas de fora? Se o erro não foi seu, mas da coisa? Se foi ela quem não soube estar pronta? Que não captou, que não conseguiu captar essa hora exata, perfeita, de estar pronta. Porque assim como o movimento de apanhar deve ser perfeito, deve ser perfeita também a falta de movimento, a aparente falta de movimento do que se deixa apanhar. Você me entende? Eu penso também, e se houve alguma interferência no. No em-volta-dos-dois, no ar. No astral, eu penso também. Uma coisa de Deus, do invisível, do mistério, que embora pareça errada ao não te deixar apanhar o prometido, no entanto está absolutamente certa. Porque é assim que é. Naturalmente. As coisas sempre prestes a serem apanhadas. E você eternamente prestes a apanhá-las. Como uma sina. Sempre prestes.