“Pobre Sebastião, você não sabe o que é trair. Você não passa de um delator. Um alcaguete. Sebastião, tira as botas. Põe os pés no chão. As mãos no chão, põe, Sebastião, e lambe a terra. O que é que você sente? Calabar sabia o gosto da terra e a terra de Calabar vai ter sempre o mesmo sabor. Quanto a você, você está engolindo o estrume do rei de passagem. Se você tivesse a dignidade de vomitar, aí sim, talvez eu lhe beijasse a boca. Calabar vomitou o que lhe enfiaram pela goela. Foi essa a sua traição. A terra e não as sobras do rei. A terra, e não a bandeira. Em vez de coroa, a terra.” (BUARQUE & GUERRA, 1973: 96).
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Cala a boca, Bárbara
(de Chico Buarque, para a peça de sua autoria - com Ruy Guerra - Calabar)
“Ele sabe dos caminhos
Dessa minha terra
No meu corpo se escondeu,
Minhas matas percorreu,
Os meus rios,
Os meus braços,
Ele é meu guerreiro
Nos colchões de terra.
Nas bandeiras, bons lençóis,
Nas trincheiras, quantos ais, ai...
Cala a boca,
Olha o fogo,
Cala a boca,
Olha a relva,
Cala a boca, Bárbara.
Cala a boca, Bárbara.
Cala a boca, Bárbara.
Cala a boca, Bárbara.
Ele sabe dos segredos
Que ninguém ensina:
Onde eu guardo o meu prazer,
Em que pântanos beber,
As vazantes,
As correntes.
Nos colchões de ferro
Ele é o meu parceiro,
Nas campanhas, nos currais,
Nas entranhas, quantos ais, ai.
Cala a boca,
Olha a noite,
Cala a boca,
Olha o frio.
Cala a boca, Bárbara.
Cala a boca, Bárbara.
Cala a boca, Bárbara.
Cala a boca, Bárbara.”
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Depois de ler "
Nordeste", do Gilberto Freyre, de me debruçar com mais cuidado sobre
"Raízes do Brasil", do pai do Chico e de fazer as pazes com Evaldo Cabral de Mello e seu
"Rubro Veio", admito que caí de amores pelos holandeses. Pois é. Sei que colonizador é colonizador, independente de onde vem, mas não dá pra não se apaixonar pelo Nassau. O problema é que a única linguagem que entendo é a da poesia, então depois de ler essas interpretações sobre o Brasil, voltei a ler "
Calabar", do Chico, pra poder entender um pouco mais e pra descansar da leitura meio enfadonha do Rubro Veio... lá (em Calabar) o Nassau aparece como um sonhador-construtor muito amigo do povo brasileiro e meio inocente em relação aos desejos da Holanda e de seu conselheiro. Tá meio idealizado, mas eu gosto. E agora já posso recomendar o sacrifício a todos: Evaldo Cabral de Mello vale a pena. Mas leiam também Calabar, que aí a coisa fica mais leve.
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